O incêndio do Edifício Joelma
Relutei muito para escrever isso aqui no blog. Medo de parecer doido, do julgamento alheio, enfim. Mas cheguei à conclusão de que preciso superar isso. Fazer essa catarse.
Nasci em 10.02.1972, portanto, em 01.02.1974 estava prestes a completar 2 anos de idade. Não tenho lembranças conscientes do incêndio do Joelma. Comecei a me dar conta dos fatos com 6 anos, ou seja, em 1978, após o incêndio do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Infelizmente São Paulo foi palco de grandes incêndios nos anos 70.
As coisas pioraram com o incêndio do Edifício Grande Avenida, na Avenida Paulista, em 1981. Eu morava por perto e, com 9 anos, além de ver pela TV, fui ver pessoalmente. Fiquei traumatizado. Comecei a ter crises de pânico, sonhava que o apartamento em que morava pegava fogo e que em cada edifício que entrava ia pegar fogo também. Nunca contei isso a ninguém.
Pouco depois exibiram na TV o filme "Joelma 23º andar", com a Beth Goulart. Nessa época também descobri que o vigia norutno do prédio em que morava tinha perdido um filho no incêndio. Com o tempo o medo foi se dissipando, mas nunca sumiu completamente.
Comecei a trabalhar no ano de 1987, como office-boy, no centro da cidade. E passava diariamente em frente ao Joelma. Um dia resolvi entrar. Peguei o elevador e pedi para subir ao 23º. Enquanto o elevador subia, a segurança do prédio se deu conta da minha presença "indevida" e chamou a ascensorista ao telefone. Quase morri de susto. Saí sem que precisassem me pedir.
Cerca de 2 anos depois conheci uma amiga que trabalhava no Joelma. Ela contava que lá aconteciam coisas estranhas, como por exemplo, pessoas que tinham crises de choro convulsivas sem razão aparente. Não aguentou trabalhar lá e se demitiu.
Conheci pessoas que escaparam da tragédia, ex-funcionários do Crefisul com quem trabalhei. Um que trabalhava no térreo, cujo chefe subiu para uma reunião, depois ligou para a secretária, pedindo que levasse documentos. Nenhum dos dois escapou. Outra, uma advogada que, com raiva porque iam mudar seu departamento de lugar, sugeriu aos colegas que chegassem mais tarde ao trabalho, depois da mudança. Só ela fez isso. Os colegas, morreram todos. Nenhum dos dois parecia absolutamente normal.
Em 1994, estagiário de direito de em uma indústria química, fui designado para acompanhar uma assembléia da Abiquim, à época instalada no Edifício Joelma. Não me lembro de ainda se chamava assim, ou se já haviam mudado o nome, que foi mudado muito tempo depois do incêndio, ao contrário do que dizem por aí. Me chamou mais a atenção o fato de eu estar lá do que a reunião propriamente dita.
No ano seguinte passei a representar a empresa no grupo de assessoramento jurídico da Abiquim. Reuniões mensais. Passei a orar (rezar) cada vez que lá entrava e saía. Um dia, durante uma reunião, as luzes se apagaram, silêncio completo. Logo soubemos que a causa era uma sobrecarga elétrica. Minutos depois tudo voltou ao normal. Todos reagiram com aparente naturalidade. Fiquei aparovado. Minha última reunião lá foi em dezembro de 1995, em janeiro seguinte deixei a empresa e, pouco depois, a cidade de São Paulo, para morar em Atibaia. Estive no prédio pela última vez há uns 3 anos, quando usei o estacionamento para assistir a uma palestra em um lugar próximo.
Nessa mesma época, a rede globo exibiu uma reportagem no linha direta sobre o incêndio, a história da Volquimar, dos "fantasmas" que hoje habitam o prédio, o crime do poço e as 13 almas. Por "coincidência", na mesma semana passei em frente ao cemitério onde estão enterrados os corpos das 13 pessoas não identificadas. Fui lá, orei, e tive a idéia de fazer algo para identificar essas pessoas e diminuir a angústia de seus familiares e, quem sabe, delas mesmas. Mandei emails para uma conhecida vereadora da capital, hoje candidata a prefeita, e à OAB. Ninguém respondeu.
Quando surgiu a internet, e depois o google, uma espécie de sentimento mórbido me levou a pesquisar o assunto novamente. Havia pouquíssima informação a respeito. Mas hoje há muitos vídeos, reportagens, etc. Talvez por causa do programa da rede globo.
Não me recordo exatamente quando começou, mas passei a sonhar com o Joelma. Não vejo incêndio nenhum, nem pessoas mortas ou queimadas, felizmente. Não sei porque vou. Apenas sei que não gostaria de estar naquele lugar. Faço o possível para ir embora. Acordo angustiado.
Há uns 2 meses, após mais um sonho desses, fiz um pedido especial para os espíritos sofredores que lá permanecem, para que recebessem a ajuda de que precisam. Foi colocado em uma corrente de ajuda espiritual. E pedi sinceramente para não voltar mais. Porém, outro dia fui a São Paulo e dei de cara com o prédio. É difícil andar pelo centro da cidade e não vê-lo, mesmo não querendo, pois ele é quase onipresente, quem conhece sabe bem.
Hoje voltei ao Joelma, mais uma vez, em sonho. Dessa vez não subi, apenas olhei para o amarelo intenso da fachada pela calçada da Av. Nove de Julho, dessa vez com a companhia de meu pai. Acordei angustiado e sem entender porque estava lá de novo.
Voltei a Internet. Vi tudo novamente, vídeos, fotos, reportagens, até cansar. Ao ler alguns blogs, descobri que outras pessoas compartilham sentimentos parecidos com o meu. Que, apesar da vida parecer seguir normalmente, a ferida continua aberta. Há pessoas que não esquecem do que aconteceu, outras que passam por lá e ainda olham para cima assustadas lembrando do que um dia viram e outras tentando entender o que não viram.
Até hoje não entendo porque o prédio não foi demolido para dar lugar a um parque. Dizem que lugares que passam por grandes tragédias devem ser demolidos e dar lugar a parques e vegetação, para que se recuperem do trauma. Outro dia li uma coisa dessas na Internet. Gostaria que fizessem isso. Mas me contentaria, sinceramente, em não voltar mais lá nos meus sonhos.
Não vou colocar nenhum link sobre o incêndio. Quem quiser, que pesquise por conta própria. Para isso existe o google. Como eu disse no início, objetivo é me libertar desse "trauma" que há tantos anos me persegue para, ao menos na minha mente, colocar no lugar um belo jardim, onde haverá apenas paz e serenidade.
Que Deus e as correntes espirituais de ajuda possam resgatar aqueles irmãos que ainda sofrem naquele local, aceitando o desprendimento da matéria, para finalmente, serem acolhidos no plano espiritual.
Nasci em 10.02.1972, portanto, em 01.02.1974 estava prestes a completar 2 anos de idade. Não tenho lembranças conscientes do incêndio do Joelma. Comecei a me dar conta dos fatos com 6 anos, ou seja, em 1978, após o incêndio do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Infelizmente São Paulo foi palco de grandes incêndios nos anos 70.
As coisas pioraram com o incêndio do Edifício Grande Avenida, na Avenida Paulista, em 1981. Eu morava por perto e, com 9 anos, além de ver pela TV, fui ver pessoalmente. Fiquei traumatizado. Comecei a ter crises de pânico, sonhava que o apartamento em que morava pegava fogo e que em cada edifício que entrava ia pegar fogo também. Nunca contei isso a ninguém.
Pouco depois exibiram na TV o filme "Joelma 23º andar", com a Beth Goulart. Nessa época também descobri que o vigia norutno do prédio em que morava tinha perdido um filho no incêndio. Com o tempo o medo foi se dissipando, mas nunca sumiu completamente.
Comecei a trabalhar no ano de 1987, como office-boy, no centro da cidade. E passava diariamente em frente ao Joelma. Um dia resolvi entrar. Peguei o elevador e pedi para subir ao 23º. Enquanto o elevador subia, a segurança do prédio se deu conta da minha presença "indevida" e chamou a ascensorista ao telefone. Quase morri de susto. Saí sem que precisassem me pedir.
Cerca de 2 anos depois conheci uma amiga que trabalhava no Joelma. Ela contava que lá aconteciam coisas estranhas, como por exemplo, pessoas que tinham crises de choro convulsivas sem razão aparente. Não aguentou trabalhar lá e se demitiu.
Conheci pessoas que escaparam da tragédia, ex-funcionários do Crefisul com quem trabalhei. Um que trabalhava no térreo, cujo chefe subiu para uma reunião, depois ligou para a secretária, pedindo que levasse documentos. Nenhum dos dois escapou. Outra, uma advogada que, com raiva porque iam mudar seu departamento de lugar, sugeriu aos colegas que chegassem mais tarde ao trabalho, depois da mudança. Só ela fez isso. Os colegas, morreram todos. Nenhum dos dois parecia absolutamente normal.
Em 1994, estagiário de direito de em uma indústria química, fui designado para acompanhar uma assembléia da Abiquim, à época instalada no Edifício Joelma. Não me lembro de ainda se chamava assim, ou se já haviam mudado o nome, que foi mudado muito tempo depois do incêndio, ao contrário do que dizem por aí. Me chamou mais a atenção o fato de eu estar lá do que a reunião propriamente dita.
No ano seguinte passei a representar a empresa no grupo de assessoramento jurídico da Abiquim. Reuniões mensais. Passei a orar (rezar) cada vez que lá entrava e saía. Um dia, durante uma reunião, as luzes se apagaram, silêncio completo. Logo soubemos que a causa era uma sobrecarga elétrica. Minutos depois tudo voltou ao normal. Todos reagiram com aparente naturalidade. Fiquei aparovado. Minha última reunião lá foi em dezembro de 1995, em janeiro seguinte deixei a empresa e, pouco depois, a cidade de São Paulo, para morar em Atibaia. Estive no prédio pela última vez há uns 3 anos, quando usei o estacionamento para assistir a uma palestra em um lugar próximo.
Nessa mesma época, a rede globo exibiu uma reportagem no linha direta sobre o incêndio, a história da Volquimar, dos "fantasmas" que hoje habitam o prédio, o crime do poço e as 13 almas. Por "coincidência", na mesma semana passei em frente ao cemitério onde estão enterrados os corpos das 13 pessoas não identificadas. Fui lá, orei, e tive a idéia de fazer algo para identificar essas pessoas e diminuir a angústia de seus familiares e, quem sabe, delas mesmas. Mandei emails para uma conhecida vereadora da capital, hoje candidata a prefeita, e à OAB. Ninguém respondeu.
Quando surgiu a internet, e depois o google, uma espécie de sentimento mórbido me levou a pesquisar o assunto novamente. Havia pouquíssima informação a respeito. Mas hoje há muitos vídeos, reportagens, etc. Talvez por causa do programa da rede globo.
Não me recordo exatamente quando começou, mas passei a sonhar com o Joelma. Não vejo incêndio nenhum, nem pessoas mortas ou queimadas, felizmente. Não sei porque vou. Apenas sei que não gostaria de estar naquele lugar. Faço o possível para ir embora. Acordo angustiado.
Há uns 2 meses, após mais um sonho desses, fiz um pedido especial para os espíritos sofredores que lá permanecem, para que recebessem a ajuda de que precisam. Foi colocado em uma corrente de ajuda espiritual. E pedi sinceramente para não voltar mais. Porém, outro dia fui a São Paulo e dei de cara com o prédio. É difícil andar pelo centro da cidade e não vê-lo, mesmo não querendo, pois ele é quase onipresente, quem conhece sabe bem.
Hoje voltei ao Joelma, mais uma vez, em sonho. Dessa vez não subi, apenas olhei para o amarelo intenso da fachada pela calçada da Av. Nove de Julho, dessa vez com a companhia de meu pai. Acordei angustiado e sem entender porque estava lá de novo.
Voltei a Internet. Vi tudo novamente, vídeos, fotos, reportagens, até cansar. Ao ler alguns blogs, descobri que outras pessoas compartilham sentimentos parecidos com o meu. Que, apesar da vida parecer seguir normalmente, a ferida continua aberta. Há pessoas que não esquecem do que aconteceu, outras que passam por lá e ainda olham para cima assustadas lembrando do que um dia viram e outras tentando entender o que não viram.
Até hoje não entendo porque o prédio não foi demolido para dar lugar a um parque. Dizem que lugares que passam por grandes tragédias devem ser demolidos e dar lugar a parques e vegetação, para que se recuperem do trauma. Outro dia li uma coisa dessas na Internet. Gostaria que fizessem isso. Mas me contentaria, sinceramente, em não voltar mais lá nos meus sonhos.
Não vou colocar nenhum link sobre o incêndio. Quem quiser, que pesquise por conta própria. Para isso existe o google. Como eu disse no início, objetivo é me libertar desse "trauma" que há tantos anos me persegue para, ao menos na minha mente, colocar no lugar um belo jardim, onde haverá apenas paz e serenidade.
Que Deus e as correntes espirituais de ajuda possam resgatar aqueles irmãos que ainda sofrem naquele local, aceitando o desprendimento da matéria, para finalmente, serem acolhidos no plano espiritual.
Comentários
Mas tenho a sensação de que escrever realmente ajudou.
Beijos pra ti e um bom final de semana.
Um abraço.
Abraços e obrigado por ter postado o blog
o lugar lá está marcado pela dor.